Quarta-feira, 06.07.11

 

“As capelas, são, não raras vezes, na aldeia, o único edifício que polariza a atenção da colectividade, engrandecendo-as esta com melhoramentos consecutivos. Podem ser também o único local onde a presença das artes se faz sentir: artes manifestadas nos ícones que são/foram referenciais da colectividade.”

M. J. Moreira da Rocha.

“Todas as comunidades têm, pois, os seus monumentos que são como âncoras onde se firma a memória das pessoas e a prosápia das comunidades, que são os indicadores da sua identidade,... Eles dão segurança às comunidades, servem-lhe de referência, ajudam a axializar os seus itinerários e incitam a perspectivar o futuro”.

C.A. Ferreira de Almeida.

“Que ao menos as gerações presentes, que desejamos responsáveis e esclarecidas, saibam respeitar e amar o património que ainda subsiste como herança dos nossos maiores”.

D. Domingos de Pinho Brandão.

In Prefácio, Capelas Públicas de Lousada, SILVA, José Carlos, 1997


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Quinta-feira, 17.06.10

Prefácio

 

            “As capelas, são, não raras vezes, na aldeia, o único edifício que polariza a atenção da colectividade, engrandecendo-as esta com melhoramentos consecutivos. Podem ser também o único local onde a presença das artes se faz sentir: artes manifestadas nos ícones que são/foram referenciais da colectividade.”

                                                                                   M. J. Moreira da Rocha.

           

 

            “Todas as comunidades têm, pois, os seus monumentos que são como âncoras onde se firma a memória das pessoas e a prosápia das comunidades, que são os indicadores da sua identidade,... Eles dão segurança às comunidades, servem-lhe de referência, ajudam a axializar os seus itinerários e incitam a perspectivar o futuro”.

C.A. Ferreira de Almeida.

 

 

            “Que ao menos as gerações presentes, que desejamos responsáveis e esclarecidas, saibam respeitar e amar o património que ainda subsiste como herança dos nossos maiores”.

D. Domingos de Pinho Brandão

SILVA, José Carlos - As Capelas Públicas de Lousada, U. Portucalense, 1997


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publicado por José Carlos Silva às 18:44 | link do post | comentar

Capelas de Casais

As Capelas de Casais.

         Das três capelas conhecidas em S. Paio de Casais, uma é privada (N. Sr.ª da Piedade) e as outras duas (Sr. do Calvário e St.º António) são públicas.

A Capela de St. º António.

Fica a 200 metros da igreja de Casais, acima desta; e a pouco mais de 100 metros da capela do Calvário.

No centro da freguesia, junto à berma direita da estrada principal que rasga a freguesia de Casais.

Na capela de St.º António celebra-se todos os Sábados - à tarde - a missa vespertina.

Todos os anos se realiza uma bela e concorrida romaria em honra de St.º António.

Algumas Considerações Artísticas.

         A capela é formada por nave e capela - mor, uma mais alta do que outra. Nota-se claramente que houve em primeiro lugar a construção de uma pequena ermida e que posteriormente houve um aumento, uma ampliação que respeitou integralmente a traça anterior, já que o segundo aumento, apesar de conter um maior volume manteve o mesmo estilo arquitectónico. Aliás - apesar de não haver dados que o confirmam - pode inferir-se que a ampliação teria sido feita no mesmo séc. ou época, ou por alguém que fez questão de manter a traça inicial. Inclino-me mais para uma ampliação executada na mesma época.

         É evidente que sofreu várias intervenções ao longo do tempo, já que o seu estado de conservação é bom.

         A capela de St.º António pode ser situada na 2ª metade do séc. XVIII.

         É uma construção de cantaria rebocada e pintada a branco.

         No seu alçado principal - frontão - poderemos ver um portal a meio do frontão que dá acesso ao templo e o entablamento é rematado por uma pirâmide no seu lado esquerdo, o frontão tem no seu cume, sob uma base em granito, uma cruz do mesmo material e no remate direito do entablamento uma artística sineira e pouco comum nas capelas de Lousada.

         Apanhando parte do timpano e parte da frontaria, logo acima de um aulejo rectangular com a imagem de St.º António (invocação da capela) mesmo ao centro, uma fresta mediana permite que a luz natural penetre no templo.

         No topo do frontão encontra-se, para além da cruz, uma luz eléctrica, assim como os altifalantes.

         O alçado direito permite-nos verificar que a cimalha elaborada e de granito sustenta e bem o telhado. De salientar também o portal lateral de acesso ao templo de forma rectangular, assim como uma fresta mediana aberta no granito da parede.

         Outro acrescento - e obedecendo à traça arquitectónica inicial - é uma pequena sacristia enxertada na primitiva ermida.

         Olhando para este alçado direito vêm-se ainda os remates do entablamento, em pirâmide, e as cruzes em bases de cantaria no cume dos frontões da primitiva ermida e na retaguarda (um bocadinho mais alta que a primitiva capela) da Segunda construção.

         O telhado é em telha vulgar - não deverá ser a primitiva. 

         O alçado esquerdo mostra-nos precisamente os mesmos elementos arquitectónicos, menos a sacristia que não tem. Tem é duas frestas abertas nas paredes da primitiva e da Segunda construção.

A Capela do Calvário.

         Fica situada no Lugar do Calvário. É a parte final duma Via Crusis. As 14 cruzes que aqui se encontram pensa-se que serão do séc. XVI ou princípios do séc. XVII. É natural que a capela seja mais tardia, do séc. XVIII.

         As várias cruzes dividem-se desde a igreja paroquial até à capela do Sr. do Calvário. Esta fica num alto de difícil acesso, mesmo que alcatroada a rua. É íngreme.

         Ainda na actualidade, em dia de Sexta feira Santa, se pratica a Via - Sacra ao longo das citadas cruzes. O percurso, todo ele, é feito numa ordem ascendente, a partir da igreja paroquial e culminando na capela do Calvário.

Algumas Considerações Artísticas.

         Julgo não errar se situar a capela do Sr. do Calvário nos inícios do séc. XVIII.

         É uma capela de uma só nave, em cantaria, com junta tomada e fitada e que sofreu ao longo dos anos várias intervenções. É no seu alçado principal que reside o maior interesse de análise arquitectónico. O alçado direito e esquerdo não têm qualquer pormenor relevante.

         É contudo uma construção equilibrada e interessante.

         A sua fachada principal - a frontaria - é pentagonal. Coisa rara nas capelas de Lousada. Quer dizer que seu frontão e tímpano são diferentes de quase todos os outros, o que permite que a torre sineira (sem sino) assente numa base plana. Torre sineira artística, em arco, e que suporta uma pequena cruz em pedra e esta por sua vez serve de base a uma “artística” e moderna cruz em ferro e fibra branca para iluminar e sinalizar o local onde se implanta o templo; na parte final da cruz encontra-se um artefacto em ferro com uma lâmpada eléctrica (também com a função de assinalar o sagrado).

         As duas pilastras salientes - cada uma na sua extremidade - têm na sua parte final o entablamento que é rematado por pináculos em forma de cones assentes em bases graníticas.

         Mesmo no centro da fachada principal, um portal dá acesso ao templo. No tímpano, a meio deste, tocando a cimalha, encontra-se uma abertura em forma de losango, a que até podemos chamar “óculo”, mas que é uma forma de representação pouco usual em capelas de Lousada.

         O alçado esquerdo deixa-nos ver o aparelho com junta tomada e fitada, o telhado e as telhas a assentarem na cimalha elaborada e em granito. Um portal - praticamente a meio - rasga a parede granítica e dá acesso ao templo.

         O único alçado coberto a azulejo em padrão, é o alçado principal. O azulejo é azul, formando uma roseta, que presumo seja deste século, já que não consegui Ter acesso a documentos do restauro em que o azulejo foi colocado.

         Linda capela, com artísticas linhas arquitectónicas e com o seu local de implantação a necessitar de melhoramentos.

 




José Carlos Silva às 10:17 | link do post | comentar

 

Domingo, 20 de Dezembro de 2009

As capelas de Covas

A Capela de N. Sr.ª do Alívio.

 

         Quem chega à igreja paroquial, só tem que virar à direita e subir até ao alto e irá encontrar junto ao cemitério de Covas a alva capela de N. Sr.ª do Alívio.

         Esta capela já existia em 1914. É que, e segundo o Jornal local a capela da Sr.ª do Alívio, em Covas, “foi alteada e sofreu melhoramentos. Pagos pelo Major Moreira Ribeiro.

         E o bispo do Porto autorizou que nesta capela se celebrasse missa.”[1][1]

 

Algumas Considerações Artísticas.

 

         A capela de N. Sr.ª do Alívio é datada - pelo menos - de finais do séc. XIX, já que em 1914 é noticia de um restauro que foi feito - alteamento. E nessa altura deveria de ser uma pequena ermida em cantaria.

         Actualmente, é uma construção - que parece ser toda ela em materiais modernos, actuais - rebocada, e pela espessura da parede não é em cantaria. Pintada em branco.

         O alçado principal é muito simples, com um portal em arco e porta em ferro, sendo na sua maior parte envidraçada, o que permite uma excelente iluminação do templo.

         No frontão, no seu cume, uma artística cruz, em ferro metalizado, encima o templo. Da cruz nasce um artefacto que permite iluminar, exteriormente, o templo.

         Três degraus em mármore dão acesso ao portal do templo.

         O alçado direito, assim como o esquerdo, apresentam frestas em arco, o que permitem uma boa iluminação do templo.

         Templo de linhas simples e sóbrias.

 

A Capela de N. Sr.ª do Amparo.

 

         No princípio do séc. XVIII já existia esta capela em S. João de Covas. A prová-lo lá está um calvário datado de 1723. Julgo que esta capela teve uma reconstrução mais recuada, mas não tive acesso a documentos que me pudessem provar estas suposições. Do primeiro quartel do séc. XVIII é.

         “A capelinha de N. Sr.ª do Amparo situa-se no cimo de alta colina...”[2][2]

         Esta capela sofreu várias intervenções, vários melhoramentos, o último dos quais em1996, em que o recinto da ermida foi calcetado, e custou 600 contos.

         Do local onde está implantada a capela de N. Sr.ª do Amparo, pode-se apreciar a beleza que nos oferece o vale Mesio.

 

Algumas Considerações Artísticas.

 

         A capela é composta por nave e altar - mor, e foi sofrendo restauros ao longo do tempo, o que lhe alterou a traça primitiva.

         A ermida - primitiva - era mais baixa. Foi alteada, o que lhe deu um ar de imponência lá no alto da colina. Aliás, quem olhar a actual frontaria verifica que um pouco acima do portal há uma almofada que, porventura, faria parte do edifício primitivo.

         As datas em que esta capela foi restaurada não as sei. Sei que por várias vezes sofreu intervenções, já que algumas delas são visíveis, e em épocas diferentes.

         É uma bela e equilibrada construção em cantaria, com a fachada principal em azulejo em padrão, azul, e os restantes alçados rebocados e em branco.

         É uma construção de estilo barroco, séc. XVIII, primeiro quartel.

         O alçado principal mostra-nos uma frontaria azulejada, em padrão, azul, e com pilastras salientes. O azulejo poderá ser situado no séc. XX, última década.

         A meio da frontaria, um portal em cantaria simples e um pouco acima uma almofada em cantaria elaborada. Quer no lado direito, quer no lado esquerdo do portal, duas frestas - pequenas - ajudam à iluminação natural do templo.

         A meia altura da frontaria no seu lado direito, vê-se um acrescento em cantaria e em azulejo da mesma origem e matriz de toda a fachada principal. O azulejo deverá Ter sido colocado na frontaria da capelinha ao mesmo tempo que foi feito este acrescento no seu alçado direito.

         O remate do entablamento é feito por pirâmides em cantaria trabalhada. E no cume do frontão uma cruz.

          Ocupando parte do timpano e parte superior da frontaria uma grande e artística cruz de Malta, diz-nos que em outros séculos mais recuados aquelas terras pertenceram à Ordem de Malta.

         O alçado direito apresenta um acrescento, que na sua parte principal é azulejada e na restante construção é rebocado. Outras duas construções - Sacristia - mais recentes, rebocadas e sem serem em cantaria.

         Logo no início do alçado direito, sobrepujando aquilo que parece ser uma construção que servirá de local de arrumos; uma fresta foi rasgada para permitir a iluminação do templo. Acima desta fresta, tendo por base o entablamento, uma sineira em arco perfeito, sem rins.

         Sobrepujando a Sacristia outra fresta aparece rasgando o templo e para a sua iluminação natural.

         O alçado direito é rebocado a branco e pode ver-se o que resta de uma imagem de N. Sr.ª do Amparo.

         Já o alçado esquerdo tem a cantaria rebocada, um portal, a meio, e duas frestas que permitem a iluminação natural do templo.

         Do alçado norte pode-se realçar as pirâmides que rematam o entablamento e a cruz que encima o frontão.

 

 

 

 





José Carlos Silva às 21:04 | link do post | comentar

 

Capela de N. Srª da Lapa (Cernadelo)

A uns 500 metros da igreja matriz, de origem românica, encontra-se a capela de N. Sr.ª da Lapa.

         Num alto, quase naquilo que seria um precipício outrora, tendo como base um penedo, rodeada de um espaço encimentado e que outrora não eram mais que penedias, está a pequenina, a minúscula , capelinha de N. Sr.ª da Lapa; que em dia de festa, ali se celebra uma missa campal em sua honra.

         Está situada junto de um antigo caminho, num alto, que em tempos serviria de consolo para todos os caminheiros que calcorream os tenebrosos caminhos dos séculos passados.

         Mais parece uma ermida de “peregrinação”, que aparece muito nas solitárias serranias do norte de Portugal.

         Era também consolo e protecção para todos os viandantes.

         É única - com este tipo de tipologia - no concelho de Lousada.

 

Algumas Considerações Artísticas.

        

         É uma capela de estilo e tipologia únicos no concelho de Lousada. Foi restaurada várias vezes. É uma capela de “peregrinação” (?) ou uma daquelas capelas que fazem parte das vias crusis (?) existentes nos Santuários. É também uma capela erigida no alto de um monte e que serviria para sossegar os espíritos dos caminheiros.

         Não está datada, o único dado a que tivemos acesso, foi a de que “A pequenina capela de Nossa Senhora da Lapa beneficiou de obras há poucos anos, tendo sido encimentadas as partes laterais em degraus devido aos penedos.”[3][1]

         Às datas de construção ou de restauros anteriores não tive acesso.

         É uma construção em granito; equilibrada, mas muito simples.

         O alçado principal - a parte mais importante - é rasgado, na sua parte central, da base ao entablamento, por um portal em ferro (parte inferior em chapa e superior dividida por pequenos rectângulos envidraçados, sendo a parte superior em forma quadrangular com barras verticais e uma horizontal - ao meio - que formam rectângulos).

         Sobrepujando o portal, e mesmo o restante entablamento, uma almofada a todo o comprimento da fachada principal.

         A cobertura da capela é feita em pirâmide cortada no topo (sem bico, mas sim plano), em cantaria, tendo na sua parte final uma pequena cruz em granito.

         Os restantes nada têm de especial a referenciar, a não serem dois pequeninos óculos.

         A capela é de cantaria de junta tomada e fitada a branco.

         Pode-se situá-la no séc. XVIII ou princípios do séc. XIX (?). Contém elementos do actual séc. XX.

         O seu interior mais se assemelha com um nicho. A imagem de N. Sr.ª da Lapa está colocada num “parapeito” em cimento, num altar improvisado, sem qualquer retábulo, mas tendo pura e só as suas paredes pintadas (caiadas) em branco.

         É uma linda capela, de tipologia única no concelho, situado junto a uma estrada e que dá a paz de espírito e a “segurança” a quem por lá passa.



[1][1] Jornal de Lousada, 18 de Outubro de 1914, n. º 376 p.2-3.

[2][2] Jornal Terras Vale do Sousa, 22 de Abril de 1993, p. 6.

[3][1] Jornal de Lousada, 22 de Fevereiro de 1991, p. 9.

 

SILVA, José Carlos - As Capelas Públicas de Lousada, U. Portucalense, 2007


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Quarta-feira, 28.04.10

As Capelas e o Património.

 

As capelas públicas de Lousada fazem parte integrante do Património concelhio, sendo na sua quase totalidade públicas: todo o património é do domínio “público”. E fazem parte da memória colectiva da comunidade em que estão inseridas. São memória, enquanto nós representamos a herança dessa memória legada pelos nossos antepassados.

Assim, as capelas representam a memória dos homens e o pulsar das comunidades, sendo também os sinais da sua identidade; são elas que representam algo de cada um; que os ajudam a centralizar os seus destinos; e que os levam a perspectivar e a acreditar no futuro; e é por isso que são património, são memória, que urge inventariar, sistematizar, potenciar, valorizar e divulgar.

As capelas, enquanto património não são tão monumentais quanto as igrejas paroquiais, os solares, as pontes românicas; mas representam um património que congrega à sua volta uma força poderosa, mística e de fé que leva os homens a fixá-las como o derradeiro refúgio.

São um tipo de património - de memória - que predomina em Lousada, que urge valorizar, dado pouco ou nada ter sido feito.

As capelas fazem, pois, parte da nossa memória colectiva, sendo património é qualidade. É, por isso, crucial que se mantenha a memória, a qualidade, para que estas - as capelas - continuem a ser testemunhos da actualidade e futuro. E por muito “pobre” que uma capela seja, ela representa o passado, e, por isso mesmo, deve continuar a sua função - a de preservação de testemunho.

Podemos afirmar que a manutenção da qualidade e da memória, do património - neste caso das capelas - pressupõe uma sensibilização e conhecimento das suas virtualidades, da sua importância e da sua diversidade arquitectónica e artística.

As capelas, enquanto património, representam não só um estilo arquitectónico, uma determinada época, mas acima de tudo o pulsar de uma comunidade, a alma de um povo.

Tudo isto representa as alvas ermidas do concelho de Lousada.

 

 

 

A Sacralização do Espaço. 

 

Quem percorrer, uma a uma, as freguesias do Concelho de Lousada e reparar no local onde primitivamente foram erigidas as suas capelas públicas, chega a uma só conclusão: num alto de um monte ou num local completamente despovoado, isolado.

Um local isolado, solitário, um alto do monte,...

Porquê ?

Haverá uma explicação para tal facto ?

Há.

           

Tal como no séc. XII - XIII, uma Igreja, era o melhor garante da posse e ocupação legal - porque cristã - de uma terra e, para além disso, uma garantia certa de segurança religiosa e psíquica para os colonizadores do seu “termo”, também no séc. XVII - XVIII, as ermidas e as capelas erigidas num alto de um monte ou num local isolado da freguesia se revestia de protecção, de benção para o território que abrangia (montes, vales, colinas, morros, etc.) e paz espiritual já que “funcionava” como protectora e último reduto dos aflitos.

A capela sacralizava o tempo e o espaço que envolvia e quanto mais longe dos seus devotos, mais importância, fora e poder tinha. O mistério, a distância, o seu poder divino e estranho, dava à santa da sua invocação um ar de todo o poder.

Ainda tinha outra função: conferia prestígio a quem a mandava erigir e que por isso cuidava dela em todos os pormenores.

A capela - lá no alto - tornava-se imprescindível à comunidade, sendo um dos pólos sacralizadores, em conjunto com a igreja, de toda a freguesia.

O nome da invocação da capela, da sua “padroeira”, é um factor importante para a comunidade paroquial. A capela - a sua padroeira - não só vela e intercede pela alma daqueles que já morreram, como é certeza da garantia do amparo e da protecção de Deus para os bens da terra, dos seus frutos, e do exorcismo dos males. As capelas, os seus santos “expulsavam” - velam - para que os demónios não tenham a veleidade de estragar as suas produções agrícolas, que não haja incêndios para que os seus montes estejam intactos (a madeira é um bem essencial).

Das capelas saíam procissões até aos vales onde os devotos dos seus santos viviam e labutavam. E nos cruzamentos e entroncamentos eram construídos cruzeiros. A procissão passava por esses locais para deles afastar os males, os demónios, do mundo. Já que “... há um outro género carregado de aspectos mágicos e que constava essencialmente  em cristianizar e apotropaicizar por meio de cruzes, de capelas, e de outros sinais amuletiformes os lugares de onde viessem más influências e os autos que dominavam a povoação. Assim, mais que para cristianizar, ou até sacralizar, as cruzes e as capelas, destinavam-se a proteger e a exorcizar o território dos entes maléficos.”17

As capelas - tal como os cruzeiros, sinais amoléticos gravados em penedos (em redor da freguesia) - tinham um filho, primeiro: proteger e exorcizar a localidade de tudo quanto fosse mais em termos de demónios.

Por tal razão, as procissões percorriam todos esses pontos considerados como hipotéticos locais de entes demoníacos.

As capelas tinham pois uma função “sacralizadora e protectora”. Aliás, as capelas, cedo apareciam no cume do monte das povoações quando estas começavam a ser povoadas. E no cimo destes montes, tendo aos seus pés os campos, iam as procissões com as rezas, as ladainhas para assim exorcizar os males daqueles locais.

Ainda hoje é aos santos “padroeiros” destas capelas a quem se pede, se roga, se apela, pelos frutos da terra, pela chuva, pela protecção pelos animais daninhos, e insectos (gafanhotos).

Actualmente, nem tanto. Hoje murmura-se, pede-se, pela saúde do filho ou da neta, da sua felicidade, etc.

Praticamente todas as capelas resultam da devoção e promessas da Época Moderna (e Contemporânea). Na Época Contemporânea foram reconstruídas pelos “brasileiros” que dessa forma adquiriram prestígio e nome.

Mas, em Lousada, vamos encontrar várias capelas em locais planos, baixos (S. Gonçalo - Macieira, N. Sr.ª da Conceição, N. Sr.ª das Necessidades - Lodares, N. Sr.ª da Misericórdia, St.º Ovídio, etc.).

Ora, estas e outras capelas, ou foram construídas em locais isolados, solitários, da freguesia, ou pertenceram a casas particulares, tornando-se mais tarde (em 1910, com a Implantação da República) capelas públicas ou foram doadas por particulares à Igreja (N. Sr.ª das Necessidades, St.ª Ovídio).

A maioria das capelas construídas em altos de montes, estão actualmente rodeadas pelos seus tementes devotos. São os casos da capela do Sr. dos Aflitos, do Loreto, S. Gonçalo (Lustosa), Sr.ª Aparecida, etc.

Uma das poucas que resiste a essa onda modernista é a capela de Sant’ Ana.

Mas a verdade é que ainda hoje - aquando das romarias - se fazem as procissões em determinado percurso e dão a volta de regresso num cruzeiro, rodeando-o.

E nas procissões não vão “espingardeiros”, nem foices e gadanhas para assim “o barulho, os morteiros e os tiros, e até o transporte de foices e gadanhas, eram essenciais para a sua eficiência - procuravam afugentar e assustar todos os males nocivos à freguesia, os das sementeiras e o da saúde,”[1]8 mas os “anjinhos” levam toda a sorte de instrumentos, de forma simbólica, e vão vestidos de santos, há andores com santos, foguetes, o santíssimo, banda de música, tamborileiros, G.N.R. a pé e a cavalo, etc.

Há, portanto, tudo - na actualidade - como havia nos séculos anteriores. E a intenção “deve” ser a mesma: exorcizar e apotropaicizar os entes maléficos”. Até a cal branca apotropaica. Temos que entender que as terras, território onde o homem viveu, e vive, é uma “dádiva “ de Deus e dos “seus santos” e por isso há que ser também generoso, reconhecido. Para “eles” se erguem capelas, onde se guardam imagens e relíquias. E aonde se levam dádivas no cumprimento de promessas, de “votos” alcançados.

No espaço sacralizado que se procura aumentar tem que, principalmente, vencer as forças do mal e demoníacas. Por tal razão se vislumbra tanta capela e tanto santo, no alto de tanto monte. Deles tinha de surgir a abundância e a fertilidade.

O bem-estar exigia a retribuição.

Daí as capelas e os santos no alto de tantos montes, que só um misto de sagrado, de protecção e segurança as faz persistir. Manto protector das aflições terrenas, e regaço dos aflitos.

 


17 Almeida, C. A. Ferreira; Território Paroquial No Entre - Douro - E - Minho. Sua Sacralização, Nova Renascença, Vol. I, Porto 1981, p. 206-211.

[1]8 Eliade, Mircea;O Sagrado e o Profano, Lisboa, s/d, p. 21.

 

 

SILVA, José Carlos Ribeiro da - As Capelas Públicas de Lousada, U. Portucalense, 2007



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